Como posso melhorar minhas conversas pelo Whats? 3 dicas práticas
Carla Giovanna Belei-Martins
Você já tentou conversar com alguém por aplicativos de mensagens (tipo Whatsapp) e teve a impressão de que vocês estavam falando sobre coisas diferentes?
Alguém já ficou bravo com alguma mensagem que você mandou e você não entendeu o porquê?
Você tem a impressão de que conversas por mensagens virtuais seguem outras normas sociais, que são diferentes das conversas presenciais?
Pois é… com o aumento do acesso à internet que vem ocorrendo nas últimas décadas e com a pandemia iniciada em 2020, muitas das nossas conversas, que antes eram presenciais, passaram a ser virtuais. E, junto com o aumento da comunicação via internet, surgem novos desafios na forma de falarmos! Nesse texto, trazemos três dicas (e uma dica-bônus!) do que você pode fazer (ou não fazer!) para melhorar suas conversas virtuais. Boa leitura!
Não existe um “manual de boas maneiras” quando falamos de comunicação pela internet ou por outros tipos de meios eletrônicos. Embora esse manual “oficial” não exista, vários profissionais de diferentes áreas tem estudado o fenômeno da comunicação virtual e analisado quais são as formas de agir que acabam funcionando melhor quando tratamos dessa modalidade de comunicação. Um termo novo que vem se difundido nessas discussões é o conceito de “Netiqueta”, que é uma fusão dos termos “Net” (que significa “rede” em inglês) e etiqueta. Ou seja, são as regras de etiqueta indicadas para pessoas que se comunicam pela internet.
Mas por que precisamos de Netiqueta? Apenas “etiqueta” já não seria o suficiente?
Você já reparou que a comunicação por meio eletrônicos, como e-mail, redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, tem particularidades? São detalhes na comunicação que não existem ou são irrelevantes na comunicação presencial, mas que podem ter um impacto enorme nas comunicações eletrônicas. A forma de escrita do texto, o tipo de mensagem que será enviada (texto, áudio, vídeo, imagens suas ou de terceiros,“figurinhas”), como seu interlocutor está se sentindo, a disponibilidade dele para responder às mensagens: tudo isso são questões que em uma conversa presencial ao vivo nós costumamos “ver de cara”, porque inclusive temos muito mais tempo de treino em conversas presenciais do que nas virtuais.
Quando não levamos em consideração particularidades do meio virtual que escolhemos podemos acabar cometendo “gafes” de comunicação. Acabamos por correr o risco de, sem querer, sermos inapropriados, intransigentes ou simplesmente mal-educados, mesmo sem a intenção.
Para isso, abaixo estão algumas dicas que fazem parte da “Netiqueta” e que podem ser aplicadas e adaptadas para diferentes tipos de ambientes.
Dica 1 – Evite escrever tudo em caixa alta/”caps lock” (MAIÚSCULAS)
Pode parecer estranho, mas no mundo virtual, a forma com que as letras e símbolos são apresentados podem acabar transmitindo a entonação ou intenção que temos ao escrever. É isso o que acontece com a escrita em maiúsculo: quando escrevemos desta forma, estamos passando a ideia de que aquilo que está escrito é mais “forte”, importante ou, dependendo do contexto, gritado.
Sim, é isso que você acabou de ler! Quando escrevemos uma mensagem em caixa alta estamos sugerindo que aquilo pode estar sendo falado aos gritos. Veja os exemplos abaixo:
“Mãe, eu vou chegar em casa mais tarde hoje.”
“MÃE, EU VOU CHEGAR EM CASA MAIS TARDE HOJE.” |
Na segunda frase, é possível que o interlocutor (no caso, a mãe) interprete o conteúdo da mensagem como sendo agressivo, bravo ou ríspido, o que pode gerar conflitos inesperados entre ela e o filho.
Assim, quando você não deseja que a mensagem dê a impressão de que você esteja gritando, é recomendado cuidado com o uso de maiúsculas.
Dica 2 – Ao iniciar uma conversa ou fazer um pedido por mensagem, evite esperar que a pessoa responda (ou esteja online) para enviar o pedido.
A comunicação por mensagens compartilha características com a comunicação presencial (tipo um “bate papo”), mas nem sempre é assim. Quando ambas as pessoas podem estar online durante a conversa, as mensagens podem ser mais curtas e próximas de uma conversa “normal”, já que as mensagens costumam ser rapidamente respondidas.
Mas é importante nos lembrarmos que nem todo mundo consegue ficar “online” o tempo todo durante uma conversa. Nesses casos, o que observamos é que acaba sendo mais apropriado que as mensagens se aproximem mais de e-mails, com cada mensagem sendo mais completa e tendo mais informações.
Então, nossa sugestão é que, ao invés de aguardar a resposta, você já envie (de preferência na mesma mensagem) seu pedido. Assim, você acaba dando a chance para a pessoa responder quando estiver disponível e de forma mais rápida.
Veja nos exemplos abaixo:
João: Bom dia, Maria, tudo bem?
Maria: Bom dia! Tudo bem sim, e com você? João: Tudo bem também! João: Maria, eu gostaria de te fazer um pedido. Maria: Claro, João, pode fazer! João: Você sabe o Pedro? Maria: Sei João: Então, ele está enfrentando alguns problemas com a internet dele. Maria: Nossa, que pena! João: Pois é! Maria: humm João: Aí eu gostaria de saber se você pode enviar nosso trabalho de ciências para a professora no lugar dele. Maria: Posso sim! João: Obrigado! |
João: Bom dia, Maria, tudo bem? Eu gostaria de te fazer um pedido. O Pedro está enfrentando alguns problemas com a internet dele e não vai conseguir enviar nosso trabalho de ciências para a professora… você pode fazer o envio?
Maria: Oi João! Bom dia! Posso sim! João: Obrigado! |
No segundo exemplo, João falou tudo o que precisava para Maria em uma só mensagem. Assim, mesmo que Maria estivesse muito ocupada naquele dia, ela poderia dar a resposta a João assim que possível.
Dica 3 –Mensagens de áudio – peça autorização para a pessoa antes de enviá-las.
Muitas vezes, no meio da correria do dia-a-dia, mensagens de áudio são mais práticas e rápidas de serem enviadas. Elas evitam que problemas de comunicação (como o ocorrido na dica 1) aconteçam e podem passar muitas informações sobre nosso humor e intenções, apenas pelo tom e velocidade da voz.
Mas se as mensagens de áudio parecem ser melhores, já que podem gerar menos problemas de comunicação, por que, então, eu devo pedir autorização para enviá-las às pessoas?
Quando temos uma relação próxima ou íntima com alguém, provavelmente nós já sabemos se essa pessoa gosta ou não gosta de receber mensagens de áudio. Além disso, relações próximas permitem que a pessoa se sinta livre para dizer se deseja ou não ouvir aquele áudio. O problema é que, quanto menos íntimos somos das pessoas, menos sabemos como elas se sentem e o que acham desse tipo de mensagem. Várias pessoas o-d-e-i-a-m receber e ouvir áudios e podem acabar se sentindo invadidas ou desrespeitadas.
Então, perguntar para a pessoa se você pode enviar um áudio pode dar a ela chance de aceitar ou não receber a mensagem neste formato.
OBS: Estamos em um país em que a desigualdade social também reflete diretamente a habilidade de um indivíduo em ser capaz ou não de escrever um texto dentro das normas da língua portuguesa. Assim, é importante lembrarmos de que a falta de oportunidades educacionais podem fazer com que mensagens de áudio sejam a única via de comunicação de algumas pessoas. Nesse sentido, é muito importante flexibilizar, também, nosso jeito de nos comunicar.
DICA EXTRA – caso for mandar áudio sobre diversos temas, uma possibilidade é deixar o “título” do áudio logo acima ou logo abaixo dele, além de mandar cada áudio com tema específico, como no exemplo abaixo:
João: Bom dia, Maria, tudo bem? Tenho alguns assuntos da escola que eu gostaria de compartilhar com você. Posso enviar áudio?
Maria: Bom dia, João, pode sim! João: Trabalho de geografia (mãozinha abaixo) Áudio João: Prova de português (mãozinha abaixo) Áudio Áudio João: Participação do Pedro no trabalho de ciências (mãozinha acima) |
Não podemos nos esquecer também de que a regra de ouro da Netiqueta (e da vida!) é tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. Também é importante lembrar que, como toda habilidade, nossa comunicação virtual vai se aperfeiçoando com o treino e aprendizado: converse com outras pessoas sobre conversas online, pergunte como elas dão determinados recados, como elas respondem, como elas se sentem em determinadas situações. Conversas sobre o tema podem ser muito valiosas para ajudar você a perceber como outras pessoas se sentem enquanto dialogam virtualmente e também para melhorar seu desempenho e aprimorar ainda mais sua comunicação.
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Quer saber mais? Seguem abaixo algumas leituras interessantes:
Sobre as diferenças entre interação online e offline:
LIEBERMAN, A.; SCHROEDER, J. Two social lives: How differences between online and offline interaction influence social outcomes. Current opinion in psychology, v. 31, p. 16-21, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2019.06.022. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352250X1930065X. Acesso em: 17 jan. 2021.
Netiqueta – As regras sociais de comportamento e comunicação na internet (em português!)
MADALENA, E.V. Netiqueta – As regras sociais de comportamento e comunicação na internet. Dissertação. Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Porto, 2013. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/71575/2/28448.pdf. Acesso em: 18 jan.2021.
Sobre incivilidades em comentários de notícias online:
Shmargad, Y. et al.. Social Norms and the Dynamics of Online Incivility. Social Science Computer Review, 2021. DOI: https://doi.org/10.1177/0894439320985527. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0894439320985527 Acesso em: 18 jan. 2021.