O PODER DA LEITURA

O Poder da Leitura

Há anos, os livros são considerados os melhores companheiros que uma pessoa pode ter ao decorrer da vida. Capaz de nos fazer viajar sem sair do lugar, a leitura é uma atividade que possui múltiplas funções, desde o entretenimento até uma forma de adquirir mais conhecimento em diferentes assuntos. Independente da motivação, o hábito de ler diariamente auxilia o nosso cérebro a se manter mais saudável, a criarmos mais capacidades analíticas e, inclusive, pode ser um grande aliado para a saúde mental. De acordo com neurologista do Hospital de Base de Rio Preto, Fábio Nazaré, a leitura influência na formação de nossa capacidade cognitiva, já que, ao lermos, diferentes regiões do cérebro são ativadas. “A leitura é um processo cognitivo complexo que inclui a decodificação de símbolos para derivar o significado do texto. Os três componentes da leitura são: decodificação, compreensão e retenção. Todos esses processos dependem de diferentes partes do cérebro.” O especialista explica como cada uma das áreas age durante a leitura. “Primeiro, organizamos as imagens captadas pela retina na região fissura calcárina no lobo occipital, depois essas informações ganham um sentido semântico nas áreas perisilvianas do lobo temporal, no giro angular e supramarginal. Durante esse processo, as estruturas localizadas no lobo frontal mantêm nossa atenção, capacidade de organização e planejamento dessas ações. Por fim, o sistema límbico permite associar o que lemos as nossas emoções e o hipocampo produz novas memórias com base nesse conteúdo”. Ainda conforme Fábio, a leitura modifica o cérebro pois aumenta a neuroplasticidade. Nesse processo, o cérebro é capaz de criar novas sinapses, aumentando assim, sua velocidade de processamento e construindo novas memórias. Vida mais longa O médico destaca um estudo realizado com 3.635 pessoas, com mais de 50 anos, que mostrou que leitores de livros viveram cerca de 23 meses a mais do que os não leitores. “Embora não haja uma explicação definitiva sobre o porquê de a leitura contribuir para uma vida mais longa, os pesquisadores explicam que a leitura mantém o cérebro ativo e estimula uma conexão emocional com os outros. É provável que a combinação desses dois fatores leve ao aumento da longevidade”, conclui. Excesso de telas e a leitura. Nos últimos anos, com o avanço das tecnologias e a proliferação das novas mídias digitais, a forma como lemos têm se modificado. De acordo com Maryanne Wolf, neurocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles, o excesso de tempo em frente às telas e navegando pelas mídias sociais, estão mudando o jeito como processamos a informação que lemos. Para o neurologista Fábio, as mídias sociais produzem satisfação instantânea, exigindo muito pouco da nossa capacidade de atenção e interpretação. Com isso, a habilidade do nosso cérebro de se concentrar em qualquer outra coisa que consideramos menos interessante diminui. “Um prejuízo na atenção pode ter muitos impactos negativos, como queda da produtividade no trabalho ou na escola, incapacidade de lembrar de detalhes ou informações significativas tanto no âmbito pessoal quanto profissional, dificuldades na comunicação e até de empatia”, explica o médico. No livro ‘O Cérebro no Mundo Digital: Os desafios da leitura na nossa era’, a neurocientista Maryanne Wolf, revela que o fato de lermos mais em telas, em vez de papel, e a prática de fazermos uma leitura superficial em textos longos, podem estar prejudicando consideravelmente nossa capacidade de entender argumentos complexos e de fazer uma análise crítica do que lemos. (Colaborou Victória Oliveira.

 

 

DESAFIOS DA LEITURA

Apesar dos últimos anos, os números de leitores terem crescido, o Brasil ainda está longe de se tornar um país leitor. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), 44% da população não lê e 30% nunca comprou nenhum livro na vida. O levantamento aponta que, no período de 2015 a 2019, o país perdeu cerca de 4,6 milhões leitores. O cenário só começou a mudar em 2020, com a pandemia do Covid-19, quando houve um aumento de 5% nas vendas de livros. Um número ainda baixo. Diante desse cenário, muitos brasileiros se tornam adultos analfabetos funcionais, ou sejam, sabem ler, mas não conseguem interpretar textos, fazer leitura crítica e argumentar. Essa situação tem causado preocupação aos especialistas que afirmam que o analfabetismo funcional forma profissionais desqualificados e despreparados para o mercado de trabalho. A falta de acesso à educação pública de qualidade e à falta de interesse em livros são motivos para a persistência desse cenário. Para a professora do departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Unesp / Ibilce, em Rio Preto, Luciani Tenani, os professores são formados para promover a entrada dos alunos no mundo da leitura e da escrita. “Uma medida que tem dado resultado, segundo relatos de professores dos anos iniciais, é a promoção da roda de leitura com os alunos. Ou seja, quando o professor lê para crianças que ainda não sabem ler. Uma outra medida interessante, é motivar os estudantes a recontarem as histórias de uma maneira bem lúdica”. Já para familiares e cuidadores, um boa dica é ler para a criança, desde bem pequena. “Seja mãe, avó, pai, tio ou uma babá, todos têm essa oportunidade de abrir a chave da imaginação e criar experiências para viver a aventura que está nos livros. Os problemas de leitura não são da escola, mas da nossa sociedade. E uma sociedade que lê e fomenta a leitura tem acesso à bens coletivos e individuais”, orienta a professora. Ainda de acordo com Luciani, a leitura promove a reflexão e o conhecimento. Para um leitor, há uma melhor qualidade de vida pois consegue executar as atividades com conhecimento a partir daquilo que foi lido. “Em outras palavras, quem mergulha nos livros não sai igual e se beneficia dessa experiência”. (VO)

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