A ansiedade de separação é um estado emocional desagradável e negativo que ocorre quando a criança se separa das figuras cuja vinculação afetiva é forte. Esta ansiedade de separação faz parte do desenvolvimento infantil e acontece mais frequentemente após a vivência uma situação estressa, também pode ocorrer quando os pais vão levar a criança à escola ou quando e hora de ir dormir.
Quais são as características da ansiedade de separação?
A criança começa a chorar quando os pais ficam fora do seu alcance de vista, manifestando um medo de perder aqueles a que a esta está mais conectada e ligada emocionalmente.
Como resultado desta ansiedade de separação é criada uma relutância persistente ou mesmo uma recusa em ir à escola ou para outro lugar. A criança pode ter alguns problemas de sono, dificuldades em adormecer e pesadelos recorrentes sobre a separação. Os sintomas físicos também podem estar presentes quando a separação ocorre (e.g. dores de cabeça, dor abdominal, náuseas e vómitos).
Com que idade pode surgir esta ansiedade de separação?
A ansiedade de separação pode ser observada pela primeira vez em crianças com cerca de 8-9 meses. Se uma criança apresenta um medo excessivo de estar longe de casa ou daqueles a que está mais ligada, podemos estar perante uma perturbação da ansiedade. Esta geralmente desenvolve-se entre os 7 e os 9 anos de idade, pelo que é necessário estar atento. Às vezes também ocorre em jovens adultos (com menos de 18 anos), com uma prevalência de cerca de 2 a 5% dos jovens.
O que pode fazer perante a ansiedade de separação? Algumas dicas.
Antes de ir embora, é útil deixar claro para a criança que não há nada de errado em separarem-se dado que a criança estará num ambiente seguro e que o pai/mãe irão definitivamente voltar. Pode fazer isto despedindo-se de forma firme e clara, não dando azo a despedidas prolongadas. É importante que não volte atrás quando ouvir a criança a chorar, não alimentando esta ansiedade e medo.
Se esta ansiedade de separação ocorrer quando é hora de dormir e de deixar a criança na cama, pode por em prática pequenos passos que ajudem a criança a aprender a tolerar esta separação. O princípio básico é que comece com breves momentos de separação, ficando depois ausente mais tempo de uma forma gradual. Recompense o seu filho pelos progressos que juntos conseguirão.
Se o seu filho ainda na maioria das situações fica ansioso e com medo, não querendo brincar ao ar livre, ir à escola ou fazer atividades habituais para a idade, deverá procurar a ajuda de um psicólogo para avaliar a situação e poder intervir no sentido de transformar os pensamentos irracionais (medo de nunca mais voltar) em pensamentos reais (ou seja, os pais VÃO voltar), lidando melhor com os seus problemas.
Desenvolvimento:
A ansiedade, bem como o medo são emoções básicas do ser humano, que fazem parte da adaptação e conservação da espécie, podendo surgir em determinadas situações, como forma de proteção. A criança, ao longo do seu desenvolvimento, na exploração do mundo que a rodeia, vai experienciando medos comuns para cada etapa de vida:
– Até aos 2 anos de idade: medo da separação/afastamento, medo de estranhos, medo de novos estímulos, medo das alturas;
– 2/3 anos de idade; medo do escuro e de animais;
– 5/6 anos de idade: medo de pessoas consideradas pela criança como «más», medo de quedas/dores, medo de dormir sozinho;
– 7/8/9 anos de idade: medo dos assaltos, catástrofes, acidentes, medo da morte, medo da aparência física, medo da aceitação social. À medida que a criança cresce, estes medos vão desaparecendo de uma forma natural e espontânea. A simples presença do medo de separar-se da mãe, pai ou qualquer outra figura de forte ligação afetiva não é necessariamente sinal de patologia emocional, pelo contrário, faz parte do desenvolvimento infantil. No entanto, a Ansiedade de Separação só se torna numa perturbação quando as reações de medo e de ansiedade perante a separação de uma das figuras de forte ligação ou perspetiva de separação da mesma, passam a comprometer a adaptação e o desenvolvimento infantil, em função do estágio em que se encontra. Isto significa, que nos devemos preocupar quando a criança tiver medos que ultrapassam os períodos ditos normativos; quando são persistentes e excessivos; quando os sintomas provocam mal-estar considerável à criança/família; quando estas manifestações interferem com a sua capacidade de desempenho ou envolvimento em contextos/tarefas que a criança evita ou enfrenta com muito sofrimento; quando algumas queixas se mantêm.
Esse é um processo que faz parte do desenvolvimento dos pequenos e para ajudar seu filho a lembrar de você e lidar melhor com a sua ausência, existem alguns caminhos particularmente úteis para crianças bastante apegadas ou que precisam ficar o tempo todo muito perto da mãe:
Pratique separações visuais rápidas
Durante o tempo que passam juntos, crie oportunidades de expor a criança à separações visuais breves, seguras e prazerosas para que ela perceba que você está por perto, mesmo que ela não possa te ver. Brincar de se esconder e aparecer é ótimo, os pequenos adoram!! É importante que essas separações aconteçam de forma natural, gradativa e numa variedade de situações diferentes.
Se faça presente na ausência
Na necessidade de se manter separado por algum tempo da criança, deixe com ela uma foto sua, cartinha ou paninho com o seu cheiro. Assim, ela tem um pouquinho de você sempre que quiser e a conexão entre vocês se mantém. Aos poucos ela forma a sua imagem na mente e o choro tende a acabar.
Encare a ansiedade de separação como um sinal positivo
É maravilhoso perceber que os filhos tem uma relação de proximidade e carinho com os pais. Tenha paciência, relaxe suas expectativas de independência e veja como isso contribui para o seu filho também relaxar e sentir menos ansiedade nos momentos que vocês precisarem se separar um do outro.
Prepare-o para a sua ausência
Você deve primeiro falar com o seu filho, preparando-o para a separação, e fazê-lo entender que você não está deixando-o para sempre. Em vez de deixar o seu filho com alguém o dia inteiro, comece por deixá-lo sozinho por um período curto de tempo. Isso fará com que a criança entenda que você vai voltar e não vai embora para sempre.
Referências:
Friedberg, R; McClure, J.M. & Garcia, J.H. (2011). Técnicas de Terapia Cognitiva para Crianças e Adolescentes. Artmed, 1ªedição.
Petersen, C.S; Wainer, R. & colaboradores (2011). Terapias Cognitivo-Comportamentais para Crianças e Adolescentes. Ciência e Arte. Artmed.
Kendall, P. (2006). Child and adolescent therapy cognitive-behavior treatment manual. The Guilford Press