Por que especializar-se em Avaliação Psicológica?

A avaliação psicológica (AP) é uma prática exclusiva do psicólogo, que, por meio de uma metodologia específica, quando usada adequadamente, auxilia a elucidar aspectos dos fenômenos psicológicos e a subsidiar intervenções em diferentes áreas de atuação deste profissional. De acordo com Resolução n° 009/2018, publicada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2018), trata-se de um “processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas”. Esse processo de investigação envolve estratégias que integram informações de diferentes fontes como, por exemplo, observação clínica, testes, inventários e entrevistas (AERA, APA, & NCME, 2014; Meyer et al., 2001; Urbina, 2014). A finalidade é ter o maior e mais profundo conhecimento possível acerca do avaliado, para que seja possível tomar as melhores decisões (Groth-Marnat & Wright, 2016; Wechsler, 1999), sejam alunos com dificuldades escolares, candidatos a vagas de emprego ou pacientes da clínica. A condução de um processo de AP requer ampla fundamentação nas teorias da Ciência Psicológica, domínio no uso de testes psicológicos e outros instrumentos e técnicas, cuidados éticos e habilidade para contextualização dos resultados e integração do material (Bandeira, Trentini, & Krug, 2016).

O cenário da área tem se modificado, ao longo dos últimos anos, mais especialmente, a partir da segunda metade da década de 1990 (Reppold & Serafini, no prelo; Wechsler & Guzzo, 1999). A título de justificativa da asserção, cita-se o XIII Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico em Psicologia, promovido pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia, no presente ano, no qual três grupos de trabalho2 (GTs) de avaliação estiveram presentes. Divididos por temáticas de interesse comum aos pesquisadores, esses grupos ilustram a complexidade da área de avaliação psicológica que, cada vez mais, busca abrir seu escopo de interesse e articular estudos relacionados à avaliação psicométrica, à avaliação projetiva e à avaliação neuropsicológica.

Aliado a isso, há outros números interessantes que podem realçar e indicar o crescimento da área em questão. Um deles refere-se à revista Avaliação Psicológica. Esse periódico temático foi criado em 2002, sob a editoração do prof. Claudio Hutz, inicialmente com uma participação modesta de publicações. Com o passar dos anos, o aumento de manuscritos submetidos foi tão intenso que houve necessidade de alteração na periodicidade da revista, que passou a ter três números por ano.

Há décadas a avaliação também se organiza como associação científica e elemento ativo nos movimentos políticos da Psicologia brasileira. Nesse sentido, estão o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica  IBAP (www.ibapnet.org.br) Além da organização de eventos científicos, da formação de grupos de pesquisa e das frequentes discussões sobre a formação profissional, essas instituições têm colaborado com importantes decisões que envolvem a Psicologia no País. Suas participações no Fórum das Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira  FENPB, ao lado de outras 21 entidades, é exemplo disso.

Em acréscimo, pode-se mencionar o convite recebido pelo Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica para participar do VII Congresso Nacional de Psicologia. O evento foi promovido pelo Conselho Federal de Psicologia  CFP em 2010, e reuniu os diretores eleitos pelos Conselhos Regionais. Além desses, cinco entidades foram convidadas, dentre elas o IBAP. Esse evento é entendido como instância máxima de deliberação da Psicologia brasileira, e seu intuito foi discutir as políticas que deverão ser adotadas pelo CFP (http://cnp.pol.org.br). Pela primeira vez, a avaliação psicológica esteve representada.

Outro avanço importante está relacionado ao uso de instrumentos psicológicos. Os testes psicológicos, enquanto ferramentas padronizadas que compõem o processo de AP, devem ter qualidade atestada para garantir que as decisões tomadas a partir de seus resultados sejam as mais adequadas ao avaliado (AERA et al., 2014; CFP, 2018; Urbina, 2014). Atualmente, no Brasil, a Resolução 009/2018 (CFP, 2018) que estabelece diretrizes para a realização de AP no exercício profissional, regulamenta o SATEPSI, o qual possui como função buscar a qualidade técnica e ética dos serviços do psicólogo. No anexo da referida resolução são disponibilizados os critérios mínimos em relação a qualidade psicométrica, incluindo-se a confiabilidade e as evidências empíricas de validade das interpretações propostas para os resultados dos testes. O SATEPSI, então, divulga uma lista com os testes que possuem parecer favorável. Essa lista pode ser encontrada emhttp://satepsi.cfp.org.br. Neste site, o órgão também fornece algumas resoluções referentes a área de AP, além de outras informações como a sessão de perguntas frequentes” que busca sanar dúvidas comuns.

Todo o processo de AP exige grande responsabilidade por parte do psicólogo e, portanto, o profissional deve estar preparado tecnicamente e respeitar princípios éticos. Nesse sentido, o próprio Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005) afirma que “são deveres fundamentais dos psicólogos assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente e prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional”

Assim, uma reflexão deve ser feita pelo Psicólogo e se refere ao quanto realmente encontra-se preparado para realizar o trabalho; se possui experiência necessária; quais instrumentos e técnicas são mais apropriados para conduzir a avaliação e o quão bem conhece o instrumento. Caso a resposta a qualquer uma dessas perguntas seja não, recomenda-se a busca de cursos e supervisão. A premissa de que o trabalho da(o) Psicóloga(o) interfere na vida das pessoas acentua a sua importância e deve vir antes de qualquer outra intenção. Um trabalho mal realizado pode prejudicar os instrumentos utilizados, já que adquire um parecer duvidoso pelo usuário e coloca em risco decisões importantes eliciadas pelo objetivo da AP. Portanto, é de responsabilidade da (o) Psicóloga(o) a melhor execução possível desse trabalho, também para garantir a continuidade da profissão com seriedade e respeito que merece.

Especialização em Avaliação Psicológica (reconhecida como uma especialidade da Psicologia pela Resolução CFP Nº 18/2019) permite que o psicólogo atue em outras vertentes além da Psicologia Clínica. Por meio desta Pós-graduação, o profissional terá uma visão crítica e uma formação fundamentada na ética e no conhecimento aprofundado sobre técnicas, testes psicológicos e avaliações comportamentais. Será capaz de emitir documentos legais sobre a avaliação realizada, por uma análise baseada na ética e técnica, adquirindo consciência e responsabilidade profissionais, capazes de pôr em prática os diferenciais técnicos do psicólogo.

 

Schneider, A., Marasca, A., Dobrovolski, T., Müller, C., & Bandeira, D. (2020). Planejamento da avaliação psicológica: implicações para a prática e para a formação.

Irigaray, T. Q., Schütz, D. M., Farina, M., Yates, M. B., Lima, M. P., & Gonzatti, V. (2020). Avaliação psicológica no contexto contemporâneo. EDIPUCRS.

 

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