Em meio a pandemia e as diversas mudanças que estão ocorrendo em nossa rotina com a quarentena, há o questionamento de como tem ficado a saúde emocional das crianças e adolescentes.
O atual cenário priva as crianças não só do convívio social, mas da curiosidade, inquietude e espontaneidade tão presentes na natureza infantil. Os adolescentes têm sofrido mais com o distanciamento dos amigos, fase da vida esta, que valoriza tanto o envolvimento com o grupo.
Além das questões relacionadas ao isolamento, observa-se as tensões geradas pelo estado constante de alerta e vulnerabilidade, promovendo consequências emocionais negativas ao nosso bem-estar. O medo e o incomodo se intensificam diante do perigo e a incerteza, sendo necessário que os pais e responsáveis estejam atentos a sintomas ansiosos, obsessivos compulsivos e depressivos que podem surgir ou se intensificar. O estresse pós-traumático e a fobia social também podem surgir nesta situação.
Diferente dos adultos, as crianças e adolescentes não possuem um repertorio emocional e cognitivo desenvolvido e seguem como modelo de enfrentamento, a conduta e manejo dos pais. Além disto, nesta fase há uma dificuldade na expressão verbal de seus receios e emoções, uma postura mais chorosa, birrenta e desobediente pode estar relacionada há dúvidas e angustias sobre a crise atual ou há uma dificuldade em se adaptar as mudanças.
A ansiedade aparece quando enfrentamos preocupações diante de alguma situação nova e desconhecida. Ela atua podendo trazer desconfortos fisiológicos, como tontura, coração acelerado, dor de cabeça, sudorese, falta de ar, dor abdominal e alterando nossos pensamentos, transformando-os em catastróficos. A mudança comportamental também ocorre e é observada a partir de evitações, desatenção, inquietação, roer unhas e chupar os dedos.
Desta forma, neste momento é importante que os adultos tenham paciência e uma comunicação assertiva com os filhos. Os responsáveis devem adotar uma visão positiva, dar a oportunidade de serem expostos os sentimentos e pensamentos dos membros da família e refletir sobre as oportunidades de aprendizados e desenvolvimento. O dialogo mantido e as informações passadas de forma adequada e leve, serão pontuais para a saúde mental dos jovens.
Estratégias:
Conscientize as crianças e adolescentes de que todos estão vivendo uma nova realidade e se adaptando a ela. Deixe claro que este momento irá passar.
Dê carinho, atenção, acolhimento.
Oriente seu filho a reconhecer as mudanças em seu corpo que sinalizam a presença de sentimentos ansiosos e as situações em que elas se manifestam.
O auxilie a identificar os pensamentos negativos e a fazer o exame de evidencias a favor e contra as ideias disfuncionais que podem surgir. Ajude-o a construir uma forma mais assertiva e realista de pensar.
Sugira as crianças e adolescentes atividades de relaxamento, como a respiração diafragmática e a meditação.
É importante observar também se, com o tempo maior livre, não está havendo o uso exagerado dos eletrônicos e o consumo em excesso dos alimentos, que são indicativos ansiosos. A família precisa, de alguma forma, estabelecer uma rotina, procurando deslocar e transformar a energia dos jovens. Organização, atividades e horários pré estabelecidos trarão segurança e a diminuição da ansiedade. Dentro do possível, deve haver a manutenção da rotina de estudos, e os hábitos, tal como estivessem na escola, devem permanecer como do sono, descanso, alimentação e lazer.
Diante desta nova configuração têm surgido nas redes sociais diversas sugestões de atividades lúdicas e divertidas para as crianças, as incentivando a usar a criatividade. Estas atividades livres podem ser planejadas propondo momentos em família e o reforço de algumas habilidades sociais e cognitivas:
- Jogos de tabuleiros e o resgate de jogos tradicionais.
- Cozinhar em família.
- Brincadeiras artísticas (massinhas, desenhos, pinturas).
- Filmes, séries e leitura.
- Redes sociais para interação com os colegas (desde que monitorado pelos adultos).
- Atividades físicas e ao ar livre.
Por fim, apesar deste momento trazer grandes chances de estresse e ansiedade, vemos que se manejada de uma forma adequada, o confinamento pode ser positivo para esta geração. Além, de sermos compelidos a nos reinventar diariamente, este período tem sido uma oportunidade de fortalecimento, trabalhando a capacidade dos jovens a lidarem com as frustrações e perdas, criarem habilidades de autocontrole, empatia e resiliência. As famílias obrigadas a desacelerarem, têm estado mais unidas, e principalmente as crianças têm ganhado muito com a atenção e tempo maior dos pais.
Referências:
Fonoaudiologia educacional em tempos de Covid-19: estrutura de rotinas, atividades e orientações à pais e professores / Organizadoras Simone Aparecida Capellini, Giseli Donadon Germano, organizadoras. – São Paulo : Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia 2020. 60 p
Autora:
Luiza Abdala Motta